terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os Limites do Controlo - Uma Teoria




Filme de 2009 realizado pelo mestre do cinema independente americano, Jim Jarmusch.

Este filme conta a história de um misterioso homem solitário cujos estranhos objectivos são mantidos em segredo de forma meticulosa. O homem vagueia por uma Espanha contemporânea sem destino certo, com intenções pouco claras e um objectivo certamente obscuro. É abordado em diversos locais de Espanha por estranhas pessoas. Todas lhe perguntam se sabe falar espanhol (em espanhol) quando ele acena que não com a cabeça as pessoas percebem que se trata de quem procuram…Nessa altura passam-lhe uma caixa de fósforos com uma mensagem secreta que ele engolirá com um dos dois cafés que pedira…Trata-se de uma história singular…

Jarmusch filma a repetição do mesmo acontecimento em lugares diferentes e com diferentes intervenientes. Todos vão ter com o homem solitário, dizem uma coisa mais ou menos profunda e depois dão-lhe uma caixa de fósforos. E vão-se embora…A ideia original de Jarmusch era filmar um filme de acção, sem acção. Todo o filme pode ser visto como um thriller, um filme de crime, com conspirações e planos estranhos para derrotar uma organização obscura, mas não há tiros nem perseguições. Aí Jarmusch é muito original…

As palavras que melhor descrevem este filme são repetição e mistério. Um clima deveras misterioso prende o espectador à tela, fazendo com que o filme passe depressa. Quando chega ao fim percebemos que pouco aconteceu e que as nossas perguntas não obtiveram resposta. Resta-nos, portanto, tentar desvendar este estranho mistério. Na minha opinião a personagem princial, um homem solitário sem nome, anda em busca do objecto podre da nossa sociedade. Pessoas cultas, com inclinações artísticas dão ao homem “lições” de arte. Dão-lhe também pistas que o guiarão a um estado de pensamento superior. Como todos sabemos a arte abre a mente e dá azo à nossa imaginação. Quando o homem solitário invade a propriedade do fruto podre da sociedade diz que usou a imaginação. O objecto podre da sociedade diz que todas as pessoas estão controladas por filmes, música…O homem solitário estrangula-o com a corda de uma guitarra. Aí reside uma bela metáfora: O homem de negócios, vulgar, grosseiro, que só pensa em dinheiro é morto pela corda de uma guitarra…palavras para quê? Com o homem de negócios = objecto podre da nossa sociedade morto, as pessoas estão livres, visto que OS LIMITES DO CONTROLO foram quebrados.
Isto é sua uma teoria, saliento...

A filosofia que emana das personagens é algo niilista. Ao longo do filme as personagens vão dizendo que A vida não vale nada e, ainda mais niilista, Se te achas grande, vai ao cemitério. É muito interessante ver filmes com filosofias tão atraentes…

A música deste filme é excelente. Jarmusch, que tem um vasto conhecimento de música, escolhe temas de guitarra eléctrica para acompanhar a marcha solitária do estranho homem…São também utilizados temas de música popular espanhola.

A interpretação de Isaach de Bankolé é extraordinária. O actor é capaz de criar uma enorme aura de mistério em torno de um homem estranhíssimo. Muitas outras estrelas se passeiam por este filme independente. Destaque para John Hurt que está muito bem…

O Que Stanley Kubrick acha de "A Lista de Schindler"...


Quando lhe falaram de "A Lista de Schindler" e do Holocausto, Stanley Kubrick afirmou de forma categórica:
Think that was about the Holocaust? That was about success, wasn't it? The Holocaust is about six million people who get killed. 'Schindler's List' was about six hundred people who don't!

Traduzindo: Acham que é sobre o Holocausto? É sobre o successo, não acha? O Holocausto é sobre seis milhões de pessoas que morreram. "A Lista de Schindler" é sobre seis mil que sobreviveram!

Pessoalmente acho que Kubrick exagera nas suas críticas, mas percebo perfeitamente o que ele quer dizer. Steven Spielberg aborda o tema de modo demasiado positivista para o gosto de Stanley Kubrick, que certamente perferiria um filme ainda mais deprimente e realista sobre os horrores dos Campos de Concentração...

"A Blindness that Touches Perfection"

ISOLATION

In fear every day, every evening,
He calls her aloud from above,
Carefully watched for a reason,
Painstaking devotion and love,
Surrendered to self preservation,
From others who care for themselves.
A blindness that touches perfection,
But hurts just like anything else.

Isolation, isolation, isolation

Mother I tried please believe me,
I'm doing the best that I can.
I'm ashamed of the things I've been put through,
I'm ashamed of the person I am.

Isolation, isolation, isolation.

But if you could just see the beauty,
These things I could never describe,
These pleasures a wayward distraction,
This is my one lucky prize

Isolation, isolation, Isolation, isolation, isolation.

Um dos melhores poemas de Ian Curtis capta de forma categórica o espírito de uma pessoa que vive distante do mundo real, isolada no seu medo e arrependida de erros do passado. Soberbo...

Ouvir aqui:

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Icónica Capa de Nevermind





Para quem quiser saber mais sobre a forma como foi concebida a capa do mais famoso álbum dos Nirvana deixo este link que contém um interessante mini-documentário em que o bébé da capa (que cresceu!), entre outros responsáveis, dão o seu testemunho.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Digital e o Perfeito Adeus?



Ian Curtis era um excelente poeta que profetizava a decadência interior e a alienação sem que os seus poemas alguma vez roçassem a auto-compaixão. No último concerto que deu, já no mês de Maio de 1980 (viria a morrer dia 18 desse mês), a última canção que cantou foi Digital. Trata-se de uma curiosidade interessante porque nessa música os versos apontam para alguém que pensa na morte e a sente aproximar-se. Os versos dizem:

-I feel it closing in (sinto-o a aproximar-se)
-The fear of whom I call (O medo daqueles que chamo)
-Day in, Day Out (Dia dentro Dia Fora)
-As Shadows starts to form (À medida que as sombras se começam a formar)
-Feel it cold and mortal (Sinto-o frio e mortal)
-The Shadows start to fall (As sombras começam a ceder)
-I’d have the world around/to see just whatever happens/Stood by the door alone (Gostava de ter o mundo a girar para mim/espreitar o que ia acontecendo/Escondido sozinho na porta) (A IDEIA DE DISTANCIAMENTO É CLARÍSSIMA! OS VERSOS SEGUINTES SERÃO AINDA MAIS ESCLARECEDORES…)
-And then it’s fade away (e depois é desvanecer)
-Don’t ever fade away (Nunca desvaneças)
-I need you here today (Preciso de ti agora)
-Don’t ever fade away/Fade Away (Nunca desvaneças/Desvanecer)
De todas as músicas de Joy Division que apontam para o suicídio, Digital é a melhor e a mais esclarecedora dos problemas de Curtis. O facto de ter sido a última música a ser tocada ao vivo pela banda dá-lhe uma aura quase lendária.

sábado, 14 de agosto de 2010

Morreu Bruno "Stroszek"

Bruno em A Canção de Bruno S.

O actor Bruno Schleinstein faleceu ontem a 11 de Agosto de 2010. Actor não profissional cuja vida miserável serviu de inspiração à personagem que Herzog criou para o filme A Canção de Bruno S. (1977), que conta a história de um desgraçado alemão que parte para os Estados Unidos da América em busca de melhores condições de vida…


Espero que Bruno S, um homem que admiro imenso, consiga encontrar na morte a paz que nunca teve em vida. Durante a sua infância, Bruno, era constantemente espancado e vivia em instituições para doentes mentais. Era um músico autodidacta que tocava em vários sítios para ganhar algum dinheiro. Depois de ser visto por Werner Herzog no documentário sobre os músicos de rua de Berlim Bruno der Schwarze – Es blies ein Jäger wohl in sein Horn, realizado por Lutz Eisholz em 1970, a sua vida iria mudar. Herzog, sempre interessado em pessoas que vivem em condições de vida fora do normal, decidiu contratá-lo para representar Kasper Hauser, um personagem semelhante a Bruno S, visto ser um adulto que, em criança, vivera afastado do mundo “real”. O facto de Bruno S não ter nenhuma experiência como actor não foi entrave para a sua contratação. A segunda colaboração de Schleinstein com o cineasta resultou num dos melhores filmes de todos os tempos: A Canção de Bruno S. Filme cujo argumento fora escrito em 4 dias especialmente para Bruno S. Esta obra-prima do cinema é muito biográfica e retrata claramente a vida de Bruno Schleinstein. Herzog é muitas vezes acusado de ter explorado o homem, mas o que é certo é que o resultado final foi espantoso.

Bruno Schleinstein em O Enigma de Kasper Hauser


Uma coisa muito interessante que Bruno S dizia era que ele transmitia as suas canções, não as cantava.

Aqui http://www.youtube.com/watch?v=PcRlZlD4nUg pode ser visto um excerto do filme A Canção de Bruno S. Neste fragmento de filme pode-se ver a habilidade que Bruno tinha para tocar Glockenspiel.

Mais informações sobre Bruno S http://thethoughtexperiment.wordpress.com/2010/08/11/rip-bruno-schleinstein-bruno-s/

Uma galeria com desenhos de Schleinstein: http://www.no-art.info/bruno_s/drawings.html

Esperando que Bruno Schleinstein nunca caia no loch der vergessenheit (fosso do esquecimento)…

R.I.P. Bruno “Stroszek”

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Inception


Inception trata-se, na minha opinião, num exercício louvável de um dos cineastas mais insubmissos dos estúdios americanos actualmente. Considero-o um insubmisso porque os seus filmes não seguem a estrutura mais comum dos filmes americanos actuais. Todavia, estamos perante um realizador aceite pelo sistema, o que se explica pelo facto dos seus filmes serem rentáveis, critério decisivo para os estúdios. Acho Inception louvável não por ser um filme fantástico (não é), mas por ser muito original e inteligente. Inteligente é a palavra chave aqui. Os estúdios actualmente apostam em objectos ridículos e estúpidos. Esta é uma verdade clara e dolorosa. Os filmes americanos estão a ficar cada vez mais burros e quase que chamam ESTÚPIDO ao espectador. Inception, ainda que seja um filme com argumento rebuscadíssimo, tenta ser mais inteligente e fazer puxar pela cabeça das pessoas. Isso é louvável e coloca Nolan na minha mais alta consideração.