quarta-feira, 22 de setembro de 2010

American Psycho - A Loucura do Consumista



Este filme, realizado no ano 2000 por Mary Harron e interpretado por Christian Bale, pretende reflectir sobre inúmeras questões muito interessantes.
A acção passa-se nos anos 80. Os yuppies, trabalhadores de Wall Street, viviam prosperamente. Os anos dourados de Ronald Reagan. O consumismo nunca atingira aquelas proporções. Patrick Bateman é um desses yuppies, um homem complexo que não convive bem com a ideia de conformismo dos seus amigos. Ao contrário do que seria de esperar, Bateman não se afasta do seu meio (até porque quer fazer parte dele), mesmo tendo consciência de que os seus amigos vivem uma vida espiritualmente vazia, sem emoções em que o quotidiano assume o seu controlo sobre as suas existências. O dia-a-dia de Patrick Bateman é tão entediante que ele precisa de encontrar um meio de fugir à normalidade, de se diferenciar dos outros, de escapar à sua realidade, portanto, Bateman, nas suas escapadas nocturnas inicia jogos macabros com prostitutas, encontros com colegas de trabalho que acabará por matar, etc…



Neste filme temos um claro caso de dupla personalidade. O Bateman calmo, muito semelhante aos seus colegas, com um gosto requintado, boa música, bons restaurantes, boas roupas, resumindo, boa vida. Ele e o seu grupo de amigos são a personificação do consumismo. Esbanjam dinheiro em tudo e conversam de coisas superficiais, levando uma existência vazia e quase ridícula. O Bateman nocturno (porque é maioritariamente à noite que o monstro se liberta) é obscuro, profundo e corroído pelo ódio a tudo e todos que o rodeiam. O Bateman nocturno vai tomando poder e, a meio do filme, apodera-se definitivamente do pacífico e trabalhador yuppie. Quando isso acontece temos uma fusão entre o homem consumista, preocupado com as aparências e o estatuto e um depravado serial-killer. Essa união acaba por resultar num verdadeiro monstro disposto a destruir tudo e todos. A “concorrência” de Bateman, os yuppies que o superam no trabalho, aqueles que se vestem melhor e, principalmente, os que têm cartões de apresentação melhores (a cena é assustadora) são alvo do ódio eterno daquele homem profundo. A necessidade de superar os adversários, o desejo de se ser o melhor são coisas que estam sempre em voga, principalmente quando se fala do Homem como espécie. A ambição de se ser superior aos concorrentes para se ter mais estatuto e ser tido mais em conta pelos que lhe estão próximos foi sempre determinante na evolução do Homem ao longo dos séculos. Este filme aborda esse tema de um modo muito inteligente, o que o torna num dos mais importantes exercícios cinematográficos do ano 2000.

A realização contida de Mary Harron dá ao filme um toque irreal e aquele final misterioso que nos deixa a pensar na verdadeira essência dos actos da personagem principal são pequenas coisas que tornam o filme melhor.

A interpretação de Bale é estranha. O actor norte-americano interpreta Bateman de uma forma muito diferenciada de cena para cena. Este facto dá à personagem a desejada dupla personalidade que a caracteriza. Tenho muita dificuldade em classificar ou falar da interpretação de Christian Bale.



Bateman é, também, um fanático na manutenção da linha. “Podemos sempre parecer mais magros” diz, a certa altura. Essa frase encerra em si o espírito da personagem. Podemos sempre ser melhores, ou, pelo menos parecê-lo, e é isso que ele deseja, parecer melhor. Patrick Bateman é um exagero da realidade, mas não anda muito longe dela…

Caricatura de uma estranha realidade

Influência dos E.U.A.?

As duas últimas imagens podem abrir caminhos a novas discussões, pelas quais não enveredarei, até porque sou suspeito no que toca aos E.U.A., mas mostram quão complexo é o filme.

American Psycho é um filme poderoso, que pode ser visto como uma crítica mordaz ao conformismo e ao consumismo, mas também pode ser visto como uma comédia macabra ou, porque não (?), ambas as coisas…

7,5/10

Sem comentários:

Enviar um comentário