sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Vagabundo de Rainer Werner Fassbinder


Vi esta interessante curta-metragem no youtube, logo após ter visto Querelle, do mesmo realizador. Der Stadtstreicher, O Vagabundo, é o primeiro filme de Fassbinder (primeiro disponível, visto que This Night se perdeu no tempo), Querelle, por seu lado, é o último trabalho do cineasta. Pessoalmente defendo que a obra de um realizador deve ser vista por ordem cronológica, porque é dessa forma que os cineastas fazem os seus filmes. Confesso que não gostei muito de Querelle, mas, como Fassbinder se trata de um realizador muito interessante, decidi procurar as suas curtas no youtube. E não é que encontrei um filme espantoso?


(O único diálogo do filme, quando ele vai ao apartamento da rapariga, que supostamente não conhece é muito simples:
-Posso usar a casa de banho? - Pergunta o homem.
-Para quê? - Replica a mulher
-Para me suicidar - A mulher fecha a porta e, à parte deste, o filme não tem mais diálogos.)




Der Stadtstreicher é um filme poderoso sobre um zé-ninguém que encontra uma arma no chão. Fantasia com o suicídio numa sequência provocante e muito bem filmada em que o poder da imagem é explorado até ao limite. O onirismo dessa cena é deveras espantoso.  O Vagabundo dança num fundo brilhante, livra-se da mala, tudo o que tem, e dá um tiro na cabeça. Seguidamente começa a acariciar-se com a pistola. Vê-se apenas a sua silhueta e o eterno azul do céu reflectindo o tom sonhador da cena. Na sequência seguinte o homem está pregado a uma parede de um estábulo, numa estranha comparação do vagabundo com Jesus Cristo. Tendo decidido suicidar-se, o vagabundo tinha que arranjar um sítio para pôr em prática os seus desejos. Em primeiro lugar dirigiu-se a casa de uma desconhecida e perguntou se podia usar a casa-de-banho para se suicidar, numa sequência irreal e engraçada. Depois de lhe ver ser negada a possibilidade de se matar numa casa de banho privada (a mulher dá-lhe uma fatia de pão, que mostra claramente o desinteresse que ela tem pelos problemas do homem), o vagabundo vai a uma casa-de-banho pública, mas também aí vê o seu sonho tolhido. Vai para um jardim, senta-se num banco, está decidido a fazê-lo ali, mas duas pessoas bem vestidas roubam-lhe a arma e começam a brincar com ela (as pessoas vulgares que brincam e gozam com os problemas do alienado).

Toda a magia e poesia destas imagens deixaram-me embasbacado. Também o som é usado de forma interessante com o uso do ruído da cidade conjugado com música clássica e silêncio. Um realizador bastante jovem, 21 anos, a ser capaz de tamanha complexidade num filme de baixíssimo orçamento é raríssimo.


Esta curta-metragem é a homenagem de Fassbinder áquele que, na altura, era o seu filme preferido, Le Signe du Lion de Eric Rohmer.

A página do Imdb para o filme: http://www.imdb.com/title/tt0061023/

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